PLAUSIBILIDADES (Notas iniciais sobre o que me move a escrever)

Plausibilidade é uma palavra que, à primeira vista, parece modesta. Não pretende encerrar a verdade, não impõe certezas, não exige unanimidade. Mas carrega consigo algo precioso: o compromisso com o que é razoável, com o que pode ser pensado com seriedade e atenção, com o que merece ser acolhido como objeto legítimo de reflexão.

Este blog nasce dessa aposta: a de que é possível – e talvez necessário – recuperar o valor da plausibilidade no exercício intelectual, no gesto de escrever, no ofício de pensar o mundo. Não como fuga da crítica ou do rigor, mas como condição para uma forma mais honesta de habitar o pensamento. Uma forma que reconhece os limites do que se pode saber, que não teme a contradição, que valoriza a dúvida como método e a conexão como horizonte.

A inspiração para o nome veio de uma pergunta feita por Richard Sennett, no livro O declínio do homem público: “Prova ou plausibilidades?”. A questão não é retórica. Para Sennett, a obsessão por provas – esse desejo de reunir todos os fatos até que não reste mais dúvida – pode levar à paralisia. Trata-se de uma forma de investigação que, ao buscar o esgotamento do objeto, termina por miniaturizá-lo. A ansiedade de querer saber tudo antes de dizer algo, segundo ele, anestesia o intelecto. Quanto mais se sabe, mais detalhes se acumulam sobre um núcleo cada vez mais estreito. E, com isso, o pensamento adormece. A espera pela prova definitiva adia indefinidamente o juízo.

Sennett sugere, então, que talvez devamos carregar outro tipo de fardo: o da plausibilidade. Em suas palavras, “a plausibilidade empírica implica mostrar as conexões lógicas entre fenômenos que podem ser concretamente descritos”. Em vez da ansiedade da prova, o desafio de construir sentido com base em relações visíveis, audíveis, perceptíveis – ainda que incompletas.

É com esse espírito que inauguro este espaço. Ele não tem um tema fixo, mas há um critério: tudo aquilo que, em minhas andanças – metafóricas e literais – se mostra digno de atenção por permitir que se pense com plausibilidade será, em algum momento, elaborado por escrito. Que seja razoável, que convoque a escuta, que permita estabelecer relações críveis entre fragmentos da experiência e da ideia.

Neste blog, não se busca provar o mundo, mas compreendê-lo em movimento, compondo sentidos. É um espaço para ensaiar pensamentos, registrar inquietações, explorar conexões e elaborar ideias. Um lugar onde a escrita funciona também como forma de escuta, de elaboração e de resistência – não apenas à anestesia do intelecto, mas também à sonolência crítica, à letargia do juízo e à apatia diante do excesso de informações.

Se você chegou até aqui, seja bem-vinda(o). Este é um convite a pensar junto, sem garantias nem promessas – mas com a convicção de que, caso as ideias que circulam neste espaço encontrem, em você, eco, desacordo ou companhia, haverá sempre alguma potência em refletir sobre o que ainda não tem resposta. Porque a honestidade intelectual, como também nos lembra Sennett, começa quando aceitamos que a contradição é parte do caminho – e não um obstáculo a ser vencido.

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